Paulo Pereira Cristóvão garante ter ganho experiência e maturidade nos últimos meses. Pretende renovar e regenerar o clube de Alvalade, ao lado de Godinho Lopes, candidato à presidência.
Tem sido um elemento muito disputado nesta fase pré-eleitoral do Sporting. Porquê?
Provavelmente porque as pessoas se foram apercebendo de alguns méritos das coisas que defendi nas últimas eleições e que continuo a defender. As premissas básicas continuam a ser as mesmas, mas agora com maior urgência. Infelizmente, o tempo foi dando razão a algumas coisas que chamei a atenção quando me candidatei.
Entretanto houve uma aproximação entre os seus pontos de vista e os de Rogério Alves e vão agora os dois integrar a lista de Godinho Lopes...
O que existiu entre mim e Rogério Aves e outros sportinguistas foi algo que não existia anteriormente: diálogo. Depois disso chegou-se à conclusão que os objectivos e as premissas eram basicamente os mesmos em relação a muitas coisas que o Sporting precisava.
Que funções irá desempenhar no Sporting se a lista que integra ganhar as eleições?
Sobre esta candidatura só posso dizer que foi formado um grupo bastante forte, com pessoas bastante determinadas, que se juntou para concretizar um bom projecto. Um grupo que não irá ser subserviente a qualquer sistema, clube ou outra forma de menorização do Sporting. Ninguém será remunerado na direcção, não só porque não terão necessidade de o ser, mas também porque o clube precisa de pessoas abnegadas que o possam servir com uma parte do seu tempo e da sua vida.
Mas será um dos vice-presidentes de uma futura direcção. Irá ter funções executivas, se Godinho Lopes vencer?
Não concebo que qualquer vice-presidente ou vogal de uma futura direcção do Sporting seja menos do que um vice-presidente ou vogal executivo. Posso garantir que quem integrar este projecto, seja em que circunstância for, só o fará para trabalhar. E pelo que conheço das pessoas não estarão lá para decorar. Não haverá gorduras. Tanto eu, como Rogério Alves [encabeça a lista para a mesa da assembleia-geral] ou Carlos Barbosa [será vice-presidente com o pelouro comercial] e outros elementos centrais desta candidatura concordamos plenamente com estas directrizes.
A lista de Godinho Lopes será bastante heterogénea, juntando muitas sensibilidades diferentes?
Sim, como qualquer equipa de sucesso. Utilizando como termo comparativo uma equipa de futebol, ela precisa de muitos elementos diferentes: o carregador de piano, o jogador que destrói, o que constrói, o que marca golos, o que finaliza sem sujar muito os calções, o génio e o louco. Precisa ao mesmo tempo de tudo isto. Este grupo mereceu a confiança do sector económico que lhe permite estar a desenvolver um projecto, no qual tem que estar obrigatoriamente a grande renovação geracional que vai existir no clube. A ideia é fazer renascer o Sporting a nível financeiro, mas também enquanto potência desportiva no futebol e nas restantes mobilidades.
Esta lista tem também elementos de recentes direcções e nesse aspecto pode considerar-se também de continuidade...
Não se pode colocar este grupo de pessoas sob o estigma da continuidade. Quando todas as listas estiverem constituídas, veremos quem é que irá representar a dita continuidade e a ruptura. Se calhar, irá haver surpresas.
Mas Filipe Nobre Guedes, que foi um elemento fundamental nas direcções de Soares Franco e de José Eduardo Bettencourt estará presente. É uma imposição da banca credora do Sporting?
Não queria personalizar, mas é verdade que há pessoas que tiveram muito envolvidas em projectos financeiros cruciais para o clube, que estão a decorrer neste momento, e que terão obrigatoriamente de continuar. Não queremos uma política de terra queimada com o passado.
O que disse a Braz da Silva [pré-candidato que abandonou anteontem a corrida eleitoral] quando ele o convidou para integrar o seu projecto?
Ele telefonou-me a dizer que contava comigo e eu, que não o conhecia, disse-lhe que provavelmente iríamos ser adversários nas eleições. Ficámos de falar posteriormente.
Mas será uma candidatura de ruptura com o passado?
Eu não diria de ruptura, mas que pode congregar o que está a ser feito de bom e aproveitar para regenerar o clube. O que queremos romper é com os momentos menos bons e de desnorte que ocorreram, mas nem tudo foi mau no passado: ganhámos alguns títulos e algumas taças.
Surpreendeu-o a desistência deste candidato?
Fiquei surpreendido. Ele entrou na corrida eleitoral com uma boa máquina comunicacional e andou um pouco a pregar sozinho no deserto, já que não tinha ninguém que contradissesse as suas ideias. Eu não acreditava naquela forma de estar. Quem quer candidatar-se de uma forma séria, deverá sempre, em primeiro lugar, falar com quem conhece a situação financeira do clube. Coisa que nem Braz da Silva, nem Bruno de Carvalho [outro candidato anunciado] ainda fizeram.
Ele diz ter desistido por causa do clima de “guerrilha interna” em que vive o clube?
Não sei do que ele fala e penso que seria bom que ele concretizasse, até para bem do Sporting. Senão fica também no ar, como outras coisas que ele deixou ao longo destes dias. Nunca disse quem era o seu “grande treinador” para o futebol ou os “grandes jogadores” que viriam. Eu em 2009 concorri às eleições com os apoios que tinha na altura, fui até ao fim, enfrentando o que tinha de enfrentar, e saí do processo eleitoral de cabeça erguida, tendo cumprido a minha missão. Para certos lugares é preciso ter estofo e é estar preparado para aquilo que irá encontrar no clube no dia seguinte às eleições.
Alguns elementos que o apoiaram e integraram a sua candidatura em 2009 consideram que traiu agora os seus princípios. Como responde?
Há dois anos aceitei ser o cabeça de lista do movimento Ser Sporting, porque após dois meses de almoços e jantares ninguém teve coragem de dar a cara. Fui o único. Não admito que ninguém coloque em causa o meu carácter e ainda ninguém me disse rigorosamente nada a esse respeito, nem colocou em causa a minha integridade e os meus princípios. O futuro irá provar que esses princípios estarão presentes no projecto que agora integro. É verdade que amadureci em relação ao Sporting nos últimos meses. Compreendi, por exemplo, que é um clube com idiossincrasias muito suas, que mais nenhum clube tem. Umas boas e outras más.
Continua a querer ser a antítese daquilo que se passou no clube nos últimos anos, como quis em 2009?
Continuo a querer que o Sporting seja bastante mais pró-activo e interventivo naquilo que são as estruturas do futebol em Portugal, e que tenha poder de influência e implementação sociológica.
Considera que os últimos meses foram tempo perdido para o Sporting?
Não direi tempo perdido, mas a política desportiva foi bastante errática, nomeadamente no futebol. Temos agora que aprender com os erros e quero que os sócios saibam que há um caminho e um grupo de gente bastante forte para servir e alterar a situação e voltar a dar-lhes alegrias.
A saúde financeira do clube mantém-se instável e poderá até ter piorado nos últimos meses, mas não faltam potenciais candidatos a estas eleições ao contrário das de 2009. Porquê?
Não sei, mas é verdade que começaram a aparecer agora candidatos com fundos de milhões. Mas eu considero que esta é a “silly season” pré-eleitoral. A fase em que alguns dizem que vão às urnas, mas querem apenas colocar a cabeça de fora e aparecer, com a secreta esperança que alguém os chame para ocuparem algum lugar. Depois, existem aqueles que estão sempre prontos para ir, mas que ninguém ainda os ouviu falar. E ainda há outros que dizem que estão a ser muito pressionado para avançar, mas, na maior parte das vezes, apenas por eles próprios. Esta ainda é uma fase de alguma indefinição. Mas gostaria que aparecessem efectivamente muitos candidatos porque estas eleições vão ocorrer numa encruzilhada histórica para o Sporting. Não há muito mais margem de erro e as pessoas têm de olhar para projectos e não para nomes. É uma grande responsabilidade histórica para os sócios.
O Sporting continua a ser um “grande” do futebol português em termos competitivos?
O Sporting tem tudo para continuar a ser um “grande”, mas uma coisa é certa: o que aconteceu não pode voltar a acontecer nunca mais. Quando temos dinheiro, sabendo que não temos com a abundância de outros rivais, temos de ser mais sagazes nas contratações. Temos de antecipar mais rapidamente onde estão os bons negócios, para além de voltar a investir naquilo que é a nossa montra no futebol, a Academia. O dinheiro não é tudo e o clube ainda consegue ter muita força e despertar todo o tipo de paixões, ainda que os números apontem que os adeptos estão a abandonar Alvalade e a deixar de pagar cotas. Terá de ser a nova equipa directiva e os jogadores a inverter esta situação.
Mas vão manter-se os constrangimentos financeiros, decorrentes das dívidas à banca...
Temos de chegar a acordo com os nossos parceiros bancários, não há volta a dar. Não posso entrar em pormenores, mas é uma componente que está, neste momento, a ser tratada por quem de direito. A componente financeira é bastante importante para este projecto. Neste momento, considero que não vale a pena falar de fundos de jogadores, essa componente financeira só será atractiva quando o futebol sportinguista for, ele próprio, atractivo. E é preciso não esquecer, que terá de ser o Sporting o principal beneficiário de qualquer fundo.
O Sporting tem condições para ser campeão nos próximos anos?
Tem, mas não é sério dizer aos adeptos que vamos ser campeões. O que é possível é dizer é que se vai reunir um conjunto de pessoas que querem reorganizar internamente, unir os adeptos e falar a uma só voz, porque só assim será possível voltar a conquistar títulos. As vitórias não se resolvem somente dentro das quatro linhas e o Sporting tem de voltar a ser um clube ouvido, respeitado e interventivo no futebol nacional. Se o nosso projecto vencer estas eleições, terá à sua frente um grupo de pessoas determinadas e motivadas para devolver o lugar que o clube merece ter. Se tudo isto poderá ser feito em um ano, não sei, mas será possível durante este mandato. Irá ser desenvolvido um trabalho duro, que muitas vezes não será visível para ninguém. De resto terá em Godinho Lopes um presidente forte, determinado, com ideias e com linhas claras para o clube, com a arte e engenho de ter constituído um conselho directivo com pessoas que partilham das suas ideias e que são solidárias com o líder."
In: "PUBLICO"
Esta entrevista faz-me lembrar este:
- Sinto-me revoltado com esta posição oficial de Paulo Pereira Cristóvão em se juntar a Lista encabeçada por Godinho Lopes, lista essa que jamais apoiaria e só posso concluir que:
Existe mesmo muita gente a desejar um bocado do nosso SPORTING, e este "virar de cara" de PPC diz tudo.