Ainda Jorge Jesus treinava equipas que não lutavam pelo título e já eu aqui defendia que deveria ser contratado pelo nosso clube. Em concreto, treinava Jesus o Belenenses, equipa formatada para lutar pela subida de divisão - na altura 'abençoada' por um processo administrativo que a manteve na primeira liga - e conseguiu ter o enorme mérito de chegar à final da Taça e apurar o clube do Restelo para as competições europeias. Portanto, dúvidas dissipadas sobre aquilo que achava e acho das suas qualidades enquanto treinador.
Ao que torcia o nariz, e ainda hoje o faço, é ao seu perfil humano, à sua qualidade enquanto líder motivador e à forma como age, fala e se comporta perante os seus pares. Jesus poderia perfeitamente ter chegado a Alvalade e publicamente ignorado os ataques ressabiados, típicos de 'mulher enganada ou trocada', vindos da Luz. Ao invés, optou por um ataque sem limites a Rui Vitória, encaixando este em silêncio todas essas atoardas. A cada vitória leonina, quer Jesus quer Carvalho desferiam disparos e ostentavam uma bazófia e uma gabarolice parolas, provavelmente iludidos pela conquista da Supertaça. Errado! Aliás, estratégia erradíssima e muito pouco avisada, como infelizmente a nação leonina constatou no final da temporada.
Mandava a sensatez e o bom senso que desenvolvêssemos em silêncio e na pacatez de Alcochete o nosso trabalho, longe de holofotes, de provocações e de climas de guerrilha, que em regra acabam por ser contraproducentes. Infelizmente Jesus optou pela outra via, A do confronto, da provocação e da guerra sem tréguas. Era o cérebro, o Ferrari, toda uma panóplia de palermices que a cada conferência de imprensa jorravam da sua boca. No final teve que engolir tudo. Como geralmente acontece quando se festeja e se canta de galo precocemente.
Esta época, e ao fim de muitos anos, a par de Paulo Bento tornou-se o primeiro treinador a beneficiar do crédito da continuidade, pese embora não ter ganho nada de relevante. Para além disso, conseguiu que Bruno Carvalho abrisse ainda mais os cordões à bolsa e lhe aumentasse o já chorudíssimo salário para evitar a fuga para o falido FC Porto.
E o que temos visto? Um Jorge Jesus teimoso na rotação de jogadores pelo onze titular, novamente incapaz de gerir exigências de competições paralelas (Liga, Champions...) e a cada nova crítica a não ter a humildade de arrepiar caminho e dar o braço a torcer. Pelo contrário, insiste na soberba e num egocentrismo insuportável. Para além disso parece longínquo aquele toque de Midas de quem extraía o máximo dos seus atletas:
Onde anda Jefferson?
Onde pára o Markovic que com ele brilhou em Carnide?
Que se passa com um William Carvalho demasiado lento e complicativo?
Onde está o Bryan Ruiz afirmativo da época passada?
Porque razão a cada jogo há mexidas nos laterais?
Porque persiste Elias, natural substituto de Adrien (Deus nos livre!), em manter-se no ritmo de jogo do campeonato brasileiro, sem que Jesus o corrija?
Qual a razão para que Bruno César não seja mais vezes titular?
Não merecerá Campbell a titularidade, ao lado de Bas Dost, em vez de um tal de André?
Com excepção do esplendor exibicional de Gelson, tem sido um autêntico deserto de ideias, de consistência, de incompetência competitiva e de uma incompreensível onda de indefinições.
Em Outubro, e descontando o azar do grupo da Champions que em sorte nos calhou. registamos já uma derrota em Vila do Conde, um empate inacreditável em Guimarães e a perda inconcebível de dois pontos caseiros perante o Tondela. Tudo isto, depois de uma propagandeada e tão elogiada estratégia de contratações de Agosto... a qual no entanto nos atira para uma distância de cinco pontos da liderança, para uma quase certa eliminação da Liga milionaria e para uma sequência de exibições crescentemente cinzentas, cenário que nem o mais pessimista adepto leonino seguramente perspectivaria
Posto tudo isto, pergunto então a Bruno Carvalho onde está o artista especializado em criar obras primas, o homem que à boca cheia afirma que as suas equipas terão sempre a obrigação de serem as melhores em campo e o treinador ao qual foram dadas condições de trabalho e remuneratórias como há muito nenhum outro tivera em Alvalade?
Carvalho legitimamente apostou num treinador com provas dadas no futebol português - e mais em concreto na Luz, mesmo sabendo-se que nos dias actuais quem se senta no banco de Carnide tem a vida 'facilitada' por factores externos ao rectângulo de jogo. Por isso mesmo, para o bem e para o mal, estarão ambos associados, quer em cenário de derrota ou de vitória. Espero sinceramente que seja o segundo a ocorrer porque prezo o meu clube, porque vivencio o sportinguismo há muitas décadas e porque, gostando mais ou menos da personalidade de quem lidera ou representa o Sporting, desejo sempre o melhor a quem quer que ostente o símbolo do leão.
No entanto, e porque a massa associativa tem sido inexcedível na sua abnegação, no seu apoio e no crédito dado, quer à actual direcção quer ao treinador, julgo que tudo tem um limite, pelo que a partir de agora
estamos muito próximos de um contexto de tolerância zero!
Não há donos do clube, os presidentes, os treinadores e o jogadores passaram, passam e passarão, mas o Sporting será eterno e os seus sócios serão sempre soberanos e detentores da palavra final sobre quem pretendem ver a liderar os destinos do clube, pelo que nos cumpre exigir resultados, porque não voltamos as costas e porque dizemos sempre presente quando nos é pedida a nossa contribuição: quotas em dia, aquisição de gameboxes, presença massiva em Alvalade no apoio à equipa, deslocação ao terreno dos adversários, contribuição extraordinária para a construção do pavilhão...
Por tudo isto, acima de tudo e todos, deverão estar sempre os supremos interesses do Sporting Clube de Portugal!
Nuno M Almeida