Deverá Carvalho continuar? Diria que sim.

É inegável que o Sporting atravessa uma crise na qual se vê uma massa adepta e associativa completamente dividida. O futuro próximo apresenta vários pontos de interrogação enquanto os nossos principais rivais assistem de camarote com indisfarçável gozo a toda esta balbúrdia. É assim. Não há volta a dar.

Mantenho também a plena convicção de que Bruno Carvalho foi o principal responsável por toda esta confrangedora situação, fruto de muita insensatez e desequilíbrio. 

Em Fevereiro estavam os holofotes postos em cima do Benfica, de Luis Filipe Vieira e de Rui Rangel. O que fez Carvalho? Criar uma acesa discussão interna à volta de um novo regulamento disciplinar e motivar uma votação que plebiscitasse a sua liderança. Pelo meio teve também um bate-papo com Adrien Silva, ainda uma referência para o balneário.

Logo após a derrota em Madrid, frente ao Atlético, em que na minha opinião até houve alguma ‘descontração’ excessiva dos nossos jogadores, Carvalho não esperou que estes regressassem a Lisboa. Ao invés, decidiu imponderamente puxar-lhes as orelhas pelo maldito Facebook, insinuar falhas graves de profissionalismo, tendo ainda tido tempo para romper o embargo à comunicação social por ele antes sugerido, entrando em directo na CM TV. Um fartote.

A partir daí, houve nova série de inacreditáveis disparates, os quais foram desde mais intervenções absurdas no Facebook em dia de jogo com o Paços, passando por convenientes dores nas costas, entrevistas extemporâneas ao Expresso, culminando em várias conferências de imprensa, uma delas no fim-de-semana da final da Taça. Na mouche!

Cereja no topo do bolo? A reação demasiado suave e suspeita de Carvalho na condenação ao inimaginável ataque na Academia aos nossos jogadores. Foi ‘chato’, pá!

Objetivamente, à parte todas estas parvoíces de Carvalho, algo que infelizmente não me surpreende, vindas de quem vieram, e jamais tendo votado nele, devo no entanto ser minimamente racional na minha análise.

Estes cinco anos da sua presidência têm-se pautado pelo regresso em força do ecletismo, pela construção do belíssimo pavilhão, por planteis de futebol mais competitivos, por bons jogadores, por competentes treinadores, pelo aumento de assistências nos jogos, por assíduas presenças na Champions, por mais sócios, por significativas vendas, entre outras medidas que de facto merecem o nosso aplauso.

Custa-me assim reconhecer que a equipa de Carvalho tirou do abismo o clube a que os fantásticos gestores da era (c)roquettista o tinham votado? Não. De todo. É um facto inegável e indesmentível.

Portanto, nesta fase, e atendendo a que se impõem planificação e execução adequadas e cuidadas da próxima temporada, estabilidade será o mínimo que deveremos assegurar. 

A contratação de Inácio, figura conhecedora, prestigiada e ponderada do futebol nacional, entre outras medidas avulsas à pressa anunciadas, parecem-me bons passos na correção de coisas menos bem feitas.

Há substantivamente motivos para exigir a demissão de Carvalho antes do termo do seu actual mandato? Neste momento diria que não. 

Fará sentido realizar eleições a muito curto prazo e estarão também reunidas condições para preparar sólidas candidaturas alternativas  à actual liderança? Não creio.

Então que defendo eu? Defendo que Carvalho deverá continuar, prosseguir na senda das promessas eleitorais antes feitas e concluir o seu mandato no tempo previsto.

Posto isto, quais os motivos que poderiam assim exigir a saída prematura do actual presidente? Ser cabalmente provado o seu envolvimento nas agressões aos nossos atletas, nomeadamente a autoria moral e material das mesmas, ou ser também provado pela justiça que homens da sua mais próxima confiança estiveram envolvidos em actos de corrupção visando beneficiar desportivamente o Sporting.

Não havendo nada disso, não vejo neste momento razões substantivas ou superlativas para exigir já a sua demissão ou promover imediatamente a sua destituição. Mesmo que subjectivamente não goste do seu estilo desbocado, trauliteiro e apalermado.

Nuno M Almeida