Sangue Leonino

Ponto prévio: este post só existe devido ao estado de quase-histeria colectiva que tomou conta de alguns sportinguistas após o empate caseiro frente aos holandeses do Heerenveen que, imagine-se, assegurou a presença do Sporting na próxima fase da UEFA Cup, o 1º lugar no grupo e a manutenção da invencibilidade nas taças europeias há 9 jogos.
Ao contrário do que tem sido hábito em Alvalade, obrigações profissionais impediram-me de marcar presença na nossa casa, e a observação do jogo pela televisão (de som desligado por razões óbvias) permitiu-me chegar a conclusões que no estádio são por vezes difíceis de destrinçar.

1º - as cargas bi-diárias de treino aplicadas por Carvalhal estão a dar "pique" aos jogadores mas a retirar-lhes resistência e depois de aguentarem 70, 75 minutos contra o eterno rival, ontem a equipa estava visivelmente fatigada. Tanto que quase não se dava pela diferença de velocidade de Izmailov para outros jogadores que não estão parados há 7 meses.
2º - aquele "relvado" está num estado miserável, ainda pior do que em certos períodos em que era praticamente só areia. Além disso torna-se extremamente perigoso para a integridade física dos jogadores. Chamaram-me a atenção esta tarde para o facto de jogadores que costumam jogar de cabeça levantada como Veloso, jogarem a olhar para o chão, para ver onde colocavam os pés. Fora isso houve vários "erros" provocados não por falta de arte ou por oposição do adversário, mas por motivos bem mais ligados ao estado da relva. Várias recepções, passes, bolas "na canela" que no estádio me pareceriam incompreensíveis.
3º - apesar do mau futebol apresentado ontem, parece claro existirem várias ilações positivas a tirar dos últimos jogos. Neste momento parece-me claro que o futebol que Carvalhal pretende implementar é de apoios mais curtos, de futebol mais rendilhado e menos dependentemente do erro do adversário. Mesmo ontem isso foi visível mas no último terço de campo a falta de velocidade e, consequência da má forma física, a falta de clarividência, obstou a que se pudesse conseguir uma exibição bem conseguida. Notou-se também menos agressividade sobre a bola do que no derby, jogando a defesa demasiado recuada para um jogo em que o adversário não saia lá de trás sem ser em contra-ataque.
4º - para que as ideias de Carvalhal tenham sucesso parece-me que será necessário reequilibrar o plantel em algumas posições, embora continue a dizer que não é necessária a revolução de mudar metade do plantel que alguns advogam.

Resumindo, era bom que os adeptos não entrassem no jogo dos nossos adversários, desatando a criticar tudo o que mexe ao fim de 3 jogos em que se têm dado passos interessantes para um futebol mais compatível com a qualidade da maioria dos intérpretes. Era bom que parassem de suspirar por Varelas, Hugos Vianas (2 jogadores úteis no plantel, sem dúvida), por treinadores que já não são o nosso, por realidades que não existem. O ano passado lia o mesmo por Carlos Martins ou Peseiro... no fundo para alguns sportinguistas no Sporting bons são os que não estão no Sporting, o resto não vale nada.
E se não acredito em resultados imediatos destas mudanças todas, nomeadamente devido ao estado físico e psicológico em que o novo treinador agarrou a equipa, acredito que o futuro não é tão preto como alguns o pintam. Embora existam pessoas a quem só o derramar do sangue leonino parece interessar...

Nelson Santos