Um mundo de contrastes

Quando assisto a vergonhas como a que hoje se noticia sobre o possível castigo a Rúben Amorim, ou os célebres casos de apitos dourados ou de toupeiras, maior se torna a admiração que há muito nutro pelo futebol alemão.

Enquanto aqui se degladiam diariamente, na Alemanha - em 2003 - o Bayern emprestou dois milhões de euros ao seu grande rival Borussia Dortmund, para que este fizesse face a despesas prementes num período de falência iminente.

Enquanto aqui cada um apenas se preocupa com a sua quintinha, na Alemanha, durante a pandemia, os clubes que competiram na Champions doaram receitas no valor de sete milhões e meio de euros, em favor dos emblemas com maiores dificuldades económico-financeiras.

Enquanto aqui se criam sociedades anónimas desportivas e se escancaram as portas a qualquer investidor, mendigando de mão estendida por fundos de origem duvidosa, na Alemanha impera a regra 50 + 1, introduzida em 1998; tal significa que os clubes são governados pelos seus adeptos, ao mesmo tempo que se garante que os preços dos bilhetes são mantidos a preços acessíveis. Não há aventuras com investidores russos, chineses ou americanos.

A regra 50 + 1 é assim uma cláusula introduzida nos regulamentos da Liga Alemã de Futebol, que define que os clubes não serão autorizados a participar na Bundesliga se investidores comerciais detiverem uma participação superior a 49 por cento. Isso significa, portanto, que os sócios do clube terão sempre uma participação maioritária e serão sempre ouvidos nas decisões mais importantes

Bilhetes a preços acessíveis é outra política sagrada por terras germânicas. Dessa forma se garante que o espectáculo no estádio é acessível a todos, pobres e ricos. Daí que seja costume verem-se em tempos ditos normais as bancadas completamente lotadas. Por aqui adoptam-se preços verdadeiramente pornográficos. Valha-nos o facto de Portugal ser um país rico e com um poder de compra invejável. Ao contrário da Alemanha...

Outra grande vantagem - e muito levada a sério por aquelas bandas - é que devido à influência dos adeptos na forma como os clubes são administrados, na Alemanha estes costumam ter um impacto bem amplo e forte na comunidade local. É por isso habitual e frequente grupos de adeptos trabalharem em estreita colaboração com os seus clubes para criar políticas oficiais contra questões sociais como a misoginia, a homofobia ou o fascismo.

Na Alemanha, povo injusta e frequentemente apelidado de arrogante, frio e distante, vemos um verdadeiro sentido comunitário de entreajuda e humildade em reconhecer os erros para assim os poder corrigir. Aqui é o que sabemos, uma lei reinante de impunidade e do salve-se quem puder.

É por estas e por outras que cada vez mais admiro os Bayerns e os Borussias desta vida, ao mesmo que deploro esta abjecta cultura de podridão e batota que grassa no futebol português!