O futuro ainda é possível

Continuo a não encontrar uma adjectivação correcta para o momento angustiante que o nosso clube vive, sendo evidente que atravessamos uma crise como há muito não víamos.

Considero que o Sporting Clube de Portugal «ainda» é uma das grandes referências desportivas deste país - também ele em crise - nego-me a acreditar na nossa decadência, mas claramente começamos a correr o risco de perder inexoravelmente o comboio da glória que no passado tanto nos caracterizou. E será que também ainda podemos falar em esforço, dedicação e devoção?

Se há algo onde deve assentar a prioridade do nosso clube, e de quem o lidera, é indubitavelmente na excelência desportiva, leia-se na formação de atletas - onde a Academia representa um instrumento-chave - no reforço e consolidação de equipas profissionais de futebol altamente competitivas e na retenção dos grandes talentos.

Como há muito defendo é chegado o momento de dizer definitivamente não à incompetência que leve à repetição de casos como os de Ricardo Quaresma, Simão Sabrosa, Paulo Futre, Hugo Viana, Varela, em relação aos quais andámos anos a fio a investir recursos materiais e humanos, sem qualquer retorno desportivo para o nosso clube, mas em alguns casos com dividendos apenas para os nossos clubes rivais.
E que se incuta de uma vez por todas sportinguismo nas veias dos jovens que formamos. Ver Varela a vibrar com um golo marcado ao clube que o formou é demasiado doloroso.

É um dado adquirido que a partir de uma equipa vitoriosa e que jogue um futebol de qualidade – que seja uma mescla de jovens talentosos da academia com jogadores experientes de qualidade e com tarimba - decorre maior mobilização, recrutamento de novos adeptos, angariação de novos sócios, aumento da venda de lugares anuais e de merchandising, maior receita de bilheteiras, maior encaixe de receita proveniente dos direitos de transmissão televisiva; em suma, a uma maior quota de mercado no universo desportivo português - e internacional - corresponderá um significativo aumento de receitas que nos permitirá ter maior desafogo, cumprirmos os nossos compromissos perante os credores, leia-se a banca, e sermos aquilo que há muito almejamos: autosuficientes.

Chega de estarmos aprisionados no colete de forças dessa mesma banca. A essência do Sporting reside e residirá sempre nos sócios!

O que não podemos é baixar os braços, entregarmo-nos a um discurso fácil de miserabilismo e darmos assim um contributo suicida para que continuemos sem vitórias desportivas e cada menos a captar adeptos junto das novas gerações.
Já para não falar do funeral do eclectismo e das épocas de glória do hóquei, do andebol, do basquetebol, do voleibol e do atletismo. Há quase duas décadas que nada de significativo ganhamos nessas modalidades, muitas entretanto extintas.

Temos uma de duas opções:

1. limitarmo-nos parcimoniosamente a equilibrar as contas e melhorar a saúde económico-financeira, não podendo assim realizar grande investimento por forma a não gerar no imediato mais custos;

2. investirmos em qualidade, gerando no curto prazo maior despesa, mas visando uma maior capacidade competitiva, ampliando assim o campo de probabilidade de mais vitórias e sucessos desportivos, o que nos permitirá aumentar também as receitas.

A primeira opção apresenta menos riscos mas também garante seguramente menos sucesso, maior afastamento do estádio, apatia entre os adeptos e humilhações como a goleada desta semana; a segunda é mais audaz – atendendo ao curto prazo - mas ao mesmo tempo pode levar o clube a mais sucessos desportivos, logo a maior e melhor saúde económico-financeira, a médio e longo prazo.
Empolgam-se os adeptos, o estádio volta a encher-se e a equipa sente maior entusiasmo à sua volta. As vitórias surgem. Qualidade paga-se.

Dinheiro gasto sem retorno é mero custo; dinheiro que garanta retorno é bom investimento. O que é fundamental é investir com critério - e não apenas ao sabor das reivindicações dos adeptos - dentro de um enquadramento assente num projecto desportivo elaborado com pés e cabeça.

É preciso ter capacidade para reunir e mobilizar equipas de qualidade, limpar a casa de elementos indesejáveis, ter peso para negociar junto dos credores e saber elaborar e implementar sólidas estratégias de gestão empresarial, adaptada às singulares vicissitudes da realidade desportiva.
Realidade desportiva que deverá ser, agora e sempre, o foco da atenção de quem lidera o clube.

Será que José Eduardo Bettencourt tem esse projecto desportivo assente em alicerces sólidos? Mesmo que o tenha, será que ainda tem espaço de manobra? Por paradoxal que pareça os próximos jogos o dirão.


Leonino