Sobre Paulo Sérgio e o futuro

Num post de Abril passado, e após a confirmação da contratação de Paulo Sérgio por 2 épocas (!!!), escrevi aqui mesmo para ficar com a minha opinião sobre ele nesse momento. Fui reler esse post hoje, como tinha feito relativamente ao post sobre o plantel 2010-2011, para poder de forma justa e não inquinada pelos últimos resultados, analisar o seu trabalho após os primeiros 6 meses de prestação como treinador do Sporting Clube de Portugal.

Penso que a maioria dos comentadores habituais do Sangue se lembrem de quem era a minha preferência pessoal em termos de técnicos nacionais, mas vou abstrair-me de falar dos ausentes. Segue então cópia de parte do texto de 20 de Abril passado.

"Posso dizer que não fiquei muito entusiasmado mas também não entro em estado de depressão com esta escolha... Criticar desde já o treinador parece-me, além de precoce, contraproducente, embora esteja certo de que as críticas se dirijam mais para a escolha propriamente dita do que para o nome do treinador, serão sempre aproveitadas para descredibilizar o mesmo.

Quanto ao currículo, assim de repente lembro-me de 2 treinadores em Portugal nos últimos 15 anos, que foram campeões tendo CV's impressionantes anteriormente, Bobby Robson e Trapattoni. De resto é extremamente invulgar ver treinadores de topo virem para Portugal e o que é certo é que treinadores campeões em Portugal e em actividade temos Artur Jorge, Toni, António Oliveira, Fernando Santos, Augusto Inácio, Jaime Pacheco, José Mourinho e Jesualdo Ferreira... depois temos treinadores experientes como Manuel José, Manuel Machado, o nosso Manuel Fernandes etc, que apesar de terem mais calo sinceramente também não me agradavam por aí além.

...pedia que o novo treinador desse à equipa "um cunho ofensivo e dominador às suas equipas, construindo equipas que joguem em função da posse da bola, rapidez e aproveitamento das alas (433, 442 clássico ou mesmo 352 - não sou o maior fã mas...)."

Admito que não vi tantos jogos do Guimarães de Paulo Sérgio esta temporada como da Académica, por exemplo. Lembro-me do jogo da taça em que eliminou o actual líder da classificação, dos jogos connosco (estreou-se na equipa vimaranense no empate na cidade-berço, ainda com Paulo Bento no banco leonino), e de mais uma meia-dúzia de jogos (quase sempre com os "grandes"), incluindo a recente derrota por 3-2 com o vice-líder Braga no jogo de todos os penalties. A ideia com que fiquei foi a de um treinador corajoso, que usa tanto o 433 (com um dos extremos a cair muitas vezes para 2º ponta de lança) como o 442 mais clássico, sempre com bastante influência do "10" (no caso do Guimarães, Nuno Assis fez uma boa 2ª volta no comando das operações da equipa), mas que opta por um tipo de futebol mais assente na velocidade e nas transições rápidas do que na posse de bola. Claro que isso pode estar relacionado com as características do plantel que tiver à sua disposição, mas de qualquer forma foi a ideia com que fiquei.

Sendo que o "trabalho de sapa" de transformar a equipa amorfa e avessa à bola do início do campeonato foi feito, e bem, por Carvalhal (mesmo que os resultados no global sejam só medianos), cabe a Paulo Sérgio pegar no que está feito, enquadrar no plantel as inevitáveis entradas e suprimir as saídas, e fazer com que o Sporting continue a demonstrar em campo a evolução sentida nestes últimos meses. Há quem diga que isso podia ser feito com Carlos Carvalhal, eu tenho muitas dúvidas que fosse a melhor opção. Será Paulo Sérgio? Não sei... mas recuso-me a boicotar desde já o treinador sem primeiro ver o seu trabalho. Pode sempre acontecer o mesmo e os que diziam de Carvalhal o que dizem agora de Paulo Sérgio e depois já o queriam a ver renovar o contrato.

Trata-se de uma opção de risco por parte da direcção, isso penso ser unânime, e ninguém estará mais consciente disso do que o próprio presidente e o director desportivo. Agora se é uma boa opção? Como quase tudo no "mundo da bola", depende dos resultados. Antes de os ver, vou limitar-me a observar que Sporting 2010-2011 vem aí, desejando que seja, no mínimo, um Sporting mais condizente com a sua posição no futebol nacional! Não sou daqueles que exige que o Sporting ganhe os jogos todos por 5-0 nem que seja campeão em Janeiro mas não posso conceber que se entregue, como este ano, o campeonato ainda antes dele ter começado. Estou certo de que poucos sportinguistas estarão na disposição de aturar mais uma época como esta que agora se presta a terminar, cabe a todos, direcção, treinador, jogadores e adeptos/sócios, criar condições para que tal não volte a suceder."

Isto era o que escrevia em Abril. Seis meses depois, e mesmo descontando das costas do treinador que a direcção falhou no reforço de algumas posições - nomeadamente na posição de trinco e na frente (tanto nas alas como em 1 ou 2 pontas de lança) e as muitas lesões que nos têm afectado, o que me salta à vista é que a equipa se apresenta de forma irregular durante jogos diferentes e, pior, dentro do mesmo jogo. Têm uma fraca capacidade de reacção aos desaires e desliga-se com frequência do jogo durante períodos longos do mesmo acumulando erros individuais e colectivos sucessivos que nos têm custado muitos pontos e evitado que se crie o mínimo elan entre os sócios e simpatizantes.

Ao contrário de outros, não considero o plantel do Sporting tão fraco assim (embora admita sem problemas precisar de ser reforçado efectivamente para chegar a um nível que permita acreditar em títulos), agora considero-o incrivelmente mal aproveitado e, em alguns jogadores, a ausência de um fio de jogo, de uma estratégia, de uma liderança de fora para dentro, faz com que evoluam em sentido contrário ao que seria normal. Custa-me muito que se acuse o jogador A ou B individualmente (tirando os casos extremos como a infantilidade suprema de Maniche ontem ou o jogo de Abel na Bélgica), quando o defeito é, claramente, colectivo. O que vejo é uma equipa que em dois jogos seguidos sofre 2 golos logo a seguir a ficar com 10. E porquê? Porque os jogadores parecem não terem instruções de como devem reagir às adversidades do próprio jogo. Olham para o banco em procura de instruções, de um rumo e... nada! Só na última semana vimos, em Gent demorar-se 4 minutos para fazer entrar João Pereira após a saída de Abel; ontem 4 minutos até entrar Zapater depois da expulsão de Maniche, sendo que ainda se andou no banco com dúvidas se entrava este ou Nuno André Coelho.
Ou seja, além de não assentar num esquema de jogo, de saltitar tacticamente entre várias opções, de raramente mexer bem durante os jogos, Paulo Sérgio ainda consegue passar para o relvado as muitas dúvidas que aparentam existir na sua cabeça. E isso custa-me tanto mais quanto vejo, noutras paragens, e mesmo com uma pré-temporada péssima... ideias estabelecidas, um modelo de jogo e onze titular definidos desde o 1º, 2º jogo da temporada. Mas lá está, esse barco já zarpou.

Hoje, após ter dormido algumas horas esta noite parece-me que a solução, para já, seria a de demitir Paulo Sérgio (mais uma série de indemnizações...), contratar um treinador estrangeiro com currículo. Com Bielsa livre - a cena com a federação chilena é surreal - e sabendo-se que o Sporting já o tentou contratar antes, parecia-me uma excelente opção, desde que com poderes além do simples treinador de campo, incluindo na interacção com a Academia.
Penso que seria igualmente necessária a marcação imediata de uma Assembleia Geral do clube para discutir a marcação de eleições. Eu não alinho na tese dos maus sportinguistas e bons sportinguistas, dos coveiros e dos salvadores, apesar de não gostar de algumas das caras (e actos, principalmente esses) de alguns dos que estão no poster do post anterior - e de outros que nem estão lá, mas deviam. Considero que existem pessoas credíveis dentro do Sporting como existem noutras alternativas, assim como existem aqueles que estão lá e eu queria bem longe de Alvalade e outros que espero nunca lá entrem. Mundos a preto e branco não existem sem ser nos filmes antigos. Era bom que todos, independentemente dos seus "gostos" entendessem isso.

No entanto, e mais importante, penso que é inconcebível insistir-se mais nesta situação de paz podre e que é preferível marcar umas eleições em tempo útil do que se arrastar esta situação ad eternum. Até porque se corre o risco de acabar por marcar eleições mais adiante e apanhar com elas em cima da preparação de mais uma época desportiva, o que é um erro já demasiadas vezes repetido no Sporting.

Já aqui considerei uma vez se não seria melhor "fechar" a SAD (sim, abrir falência e fechá-la) e "começar de novo", mesmo partindo na 3ª divisão. Teríamos certamente 5, 10 anos que nos iriam custar imenso, mas acredito que com a força nacional que o Sporting tem, poderíamos rapidamente chegar à 1ª liga nacional e a partir daí consolidar o nosso clube com base no associativismo, abandonando esta dualidade "empresa-clube" que acaba por corroer todas as possibilidades de união entre pessoas que, mais do que a pessoa A ou B, querem dois clubes diferentes. Será preferível a um clube viver nesta desunião permanente (e infelizmente, seja o presidente amanhã o Zé, o Paulo, o Manel ou o Bernardo, acredito que se vá parar sempre ao mesmo) ou fazer um "reset" e perder os tais 5, 10 anos, mas ganhar um futuro?

PS: peço desculpas pelo texto, demasiado longo e confuso - eu sei - mas precisava desabafar, e é o que dá ter evitado escrever sobre isto mais cedo.

Nelson Santos