Sempre defendi que para se tratar um mal é imperioso fazer antes um diagnóstico e assumir o que não está bem. Só havendo coragem para se reconhecer o que de errado se fez se poderá definir de modo correcto e lúcido a melhor rota para se voltar a ser o que era.
Estou-me nas tintas para nomes, candidatos ou listas, já que aquilo que quero enquanto adepto e sócio é que qualquer candidato a presidente do Sporting deseje realmente o melhor para o clube se se saiba rodear dos melhores elementos para voltar a colocar o clube nos patamares nacional e internacional que a sua História merece.
Se o eleito for Bruno Carvalho que saiba manter a consistência em tudo aquilo que neste seu primeiro mandato foi bem feito e que tenha a lucidez e a humildade de arrepiar caminho nas opções que se revelaram erradas. Só os burros é que nada aprendem com os erros cometidos.
Se a maioria dos sócios der a vitória eleitoral a Madeira Rodrigues que este saiba aproveitar as coisas boas que Bruno Carvalho e a sua equipa realizaram, trazendo em simultâneo ideias e propostas novas que sejam uma mais-valia para a instituição.
Só que nada disto poderá ser realidade se persistirmos em viver no passado e em viver em negação no presente, porque a verdade é que há muito deixámos (infelizmente) que os nossos principais rivais descolassem. E só poderemos voltar ao grupo dos mais poderosos do desporto nacional, com particular foco no futebol, se houver competência, honestidade e união. E sobretudo assumindo que já não somos tão grandes como antigamente.
A triste realidade é que, apesar de nestas últimas temporadas nos termos reaproximado dos lugares cimeiros e de termos voltado a lutar pelo primeiro lugar na maioria das várias modalidades, estamos ainda longe da reafirmação do clube, tanto nacional como internacionalmente.
Tenho tido a nível profissional o privilégio de há muitos anos trabalhar e me cruzar com pessoas de vários países - espanhóis, italianos, franceses, alemães, ingleses... - e a triste constatação é que quando a conversa vai para o futebol, quando revelo ser adepto do Sporting Clube de Portugal, poucos o admitem conhecer. Invariavelmente Benfica e Porto são os mais conhecidos. Com algum custo lá se vão lembrando que foi o clube que formou talentos como Ronaldo ou Figo, mas pouco mais. Muito pouco mais...
Também dói muito quando oiço constantemente o meu filho de doze anos, adepto e sócio desde que nasceu, perguntar: quando é que vejo o Sporting ser campeão? É que se torna mesmo muito dificil alimentar o sportinguismo sem títulos e glória!
A propósito de tudo isto, e descontando alguns exageros e outras imprecisões nos números mencionados, aconselho a leitura deste texto publicado no Visão de Mercado, da autoria de um adepto brasileiro de futebol:
Nos últimos 30 anos, o Sporting ganhou somente 2 vezes a liga, nesse mesmo período Porto venceu 19 vezes e o Benfica 9. Sendo que 12 dos 18 títulos portugueses do Sporting, foram antes dos anos 70.
Quando se fala em nível internacional, as coisas ficam ainda mais abismais. Enquanto que o Porto tem 2 Taças Intercontinentais, 2 Liga dos Campeões, 2 Liga Europa, alem de uma Supercopa (sem contar as, quase sempre, boas prestações no principal torneio de clubes do mundo), e o Benfica não fica atrás, tendo já conquistado 2 Ligas dos Campeões, além de varias finais nos principais torneios europeus, já o Sporting tem somente o título da Recopa Europeia e várias humilhações internacionais.
No número de torcedores (algo que ainda pode ser um argumento para a grandeza do clube), o Sporting também vem-se apequenando. Nos anos 50 perdeu o posto de maior torcida de Portugal para o Benfica, e viu nos anos 2000 a torcida do Porto se torna a segunda maior do país. Para se ter uma ideia, em 1996, as pesquisas apontavam o Sporting como a segunda maior torcida de Portugal com 23%, seguido pelo Porto com 17%.
Já em 2012, as pesquisas apontavam Benfica com 39%, Porto 20% e Sporting 18%. Nesse caminhar, não ficaremos surpresos se em 20 anos, o Sporting estiver perto de somente 10% da preferência dos portugueses.
Para concluir, entendo que o Sporting é um clube tradicional e mediático em Portugal, porem é necessário entender seu real tamanho para que assim possa voltar a se aproximar dos seus rivais. Pois se os próximos 30 anos forem como os últimos 30, não será necessário que um estrangeiro mostre que o Sporting já não faz mais parte dos grandes de Portugal.
A realidade dói, mas é a realidade. A esperança é que, tal como tudo na vida, também tudo isto pode ainda ser revertido. Haja vontade e competência!
Basta olhar para o exemplo do Atlético Madrid, o qual compete na sua liga nacional com dois colossos do desporto mundial, mas que após um período tenebroso em que quase fechou portas, conseguiu reerguer-se e voltar aos títulos e a grandes eventos internacionais (presença em duas finais da Champions, em 2014 e 2016).
Não chega continuarmos a fingir que somos grandes. Temos mesmo que querer muito voltar a ser grandes!
Nuno M Almeida