Dos 30 milhões de euros das obrigações, 20 são para pagar anterior empréstimo. E os restantes 10 milhões?
Os 20 milhões deviam ter sido usados para pagar o último empréstimo obrigacionista, mas não foi o momento adequado. Ainda não tínhamos os capitais próprios positivos [passivo superior ao ativo]. Os restantes 10 milhões resultam da reestruturação. Vão servir para pagar dívidas anteriores, para converter passivo de curto prazo em passivo a longo prazo e para fundo de maneio. Não serão para comprar jogadores.
A taxa de juro destas obrigações é a mais baixa de sempre. Mas não devia ser mais reduzida, dado que é bastante superior, por exemplo, a emissões feitas pela REN e por Portugal nos mercados?
A Sporting SAD é uma sociedade que tem apresentado capitais próprios negativos e prejuízos sistemáticos. Isto tem um historial relevante para o mercado. Estas emissões são um mercado interessante. A REN, por exemplo, pode ter um endividamento elevado, mas tem ratings de qualidade. Falta-nos esse histórico.
Mas há sempre um risco. Mais elevado do que noutras empresas. Porque os investidores devem escolher as obrigações do Sporting?
Claro que há um risco. O investidor aposta com históricos. Sei de gente que investe, sempre que pode, nos produtos das SAD dos três grandes para distribuir o risco. Nunca houve uma implosão nestes processos. As SAD portuguesas têm cumprido.
Isto não afasta o interesse de investidores institucionais? Não está mais focado no adepto?
Não. A informação não é pública, mas os primeiros dias revelam que há interesse de investidores institucionais. O mercado tem apetite por taxas de juro elevadas, devido à descida das mesmas, que tem levado à falta de procura. A última operação no mercado de obrigações foi da SAD do FC Porto [junho de 2014].
É aliciante repetir esta operação?
Graças ao acordo de reestruturação, a taxa de juro média dos empréstimos do Sporting é muito mais baixa do que as dos outros grandes. A razão para irmos ao mercado é porque precisamos de estar lá. É importante sermos escrutinados. O nível de exigência da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) foi muito superior ao habitual, porque temos pouco capital disperso em bolsa (free float).
Está por realizar o aumento de capital de 18 milhões de euros, que prevê a entrada de novos acionistas. O Novo Banco vai entrar no capital da SAD?
Não, não vai entrar. Há adiantamentos feitos pela banca e há a expectativa de entrada de investidores para ajudar a resolver a situação da dívida.
A promessa de novos investidores foi feita em campanha eleitoral. Quem assume os 18 milhões de euros até à entrada efetiva no capital da SAD?
Esta etapa faz parte do processo de reestruturação. Um novo investidor terá de entrar sempre com um euro por ação no capital, o dobro da cotação atual [49 cêntimos]. As necessidades de financiamento têm sido cobertas com a perspetiva de haver um novo investidor. Não há dificuldades financeiras por estes 18 milhões não terem sido supridos até agora.
Esse investidor está encontrado?
Há várias entidades que estão interessadas em entrar com os 18 milhões de euros.
E já há acordo?
Não posso mencionar isso. Até há procura por um valor superior a esse. Procuramos uma perspetiva global em termos de investidores, geografia e participação em algo mais do que a mera entrada em capital. Ou seja, se conseguir um investidor estrangeiro interessado em participar na gestão e que possa abrir mercados internacionais. Se fizermos uma aposta num parceiro que nos faça aumentar as receitas, melhor. Não procuramos quem queira investir apenas um milhão.
Quando serão anunciados os investidores?
Não é urgente. O que importa é ver as coisas com calma, sobretudo numa altura complexa, em que procuramos novos patrocinadores. Se for em junho ou julho, excelente. Também poderá ser no final do ano.
Quando é que os sportinguistas podem esperar que haja distribuição de dividendos?
A SAD tem resultados transitados negativos. Não pode distribuir dividendos. O Sporting só tem capital próprio positivo por causa dos Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis (VMOC), que não contam para o cálculo.
Isso quer dizer, até 2025 [quando vencem as VMOC], dificilmente irão pagar dividendos?
Posso ter um resultado líquido positivo e resolver esta situação. Se tiver um lucro de 100 milhões, com transferências, posso usar parte para abater dívida ou investir em jogadores. Não posso adiantar mais nada a não ser que queremos ser a primeira SAD a pagar dividendos.
Sete milhões de euros é um valor justo para um eventual naming do Estádio? Está a ser negociado em conjunto com o naming da Academia?
Os estatutos do Sporting não permitem a alienação do nome do Estádio. O naming está a ser visto juntamente com o patrocínio das camisolas e o nome da Academia. Há entidades que estão dispostas a controlar tudo e há empresas especificamente para o estádio, embora não tenha aparecido nada de especial. Dificilmente se encontra uma empresa com dinheiro que se veja só para patrocinar a camisola. Uma empresa nacional não tem.
Está a dizer que o próximo patrocinador da camisola do Sporting não será português?
Sim. Não têm dinheiro para investir nos três grandes. O que nos é transmitido é que ou investe em todos ou não investe em ninguém.
Mas são os tais sete milhões?
Isso tem de ser visto de forma interligada.
É como um "pacotão"? Quem ficar com o estádio, fica com a academia e as camisolas?
Se chegar um investidor com 20 milhões de euros, temos de negociar. Se o Sporting chegar à fase de grupos da Champions, para uma marca internacional que exporte, vale mais do que se estiver apenas nas competições nacionais.
O Sporting está em risco de disputar o play-off da Liga dos Campeões sem patrocinador?
Não. Há a possibilidade de jogar com o patrocinador só para o play-off. Depois, veremos se continua.
Esse patrocinador para estes dois jogos já está assegurado?
Não é difícil arranjar um patrocinador só para dois jogos, mesmo português. Se o patrocínio custa 3,25 milhões de euros e faço 30 jogos no campeonato, cada camisola vale cerca de 100 mil euros, em média. O ideal é definir os sponsors com um ano de antecedência. No limite, se quiser vender camisolas evento a evento, é vendida três vezes acima do valor normal. Podemos mudar de patrocinador todos os jogos. No limite, pode render mais dinheiro. A área comercial está pronta para trabalhar em qualquer cenário.
O naming pode ser votado na assembleia geral em junho?
Não. O campeonato começa em agosto. Isto vai até "às últimas". Estamos sempre à espera de uma melhor proposta.
Há conversações para a Guiné Equatorial ser patrocinadora do Sporting?
Abrimos lá uma academia e há uma relação interessante com eles. Se me disser que há uma empresa desse país interessada em patrocinar o Sporting, isso é possível.
E o governo?
Não estou a ver.
Mas há essa possibilidade, apesar dos possíveis danos para a imagem do Sporting?
Não vejo porquê. A Guiné Equatorial pertence à Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Se o tribunal der razão à Doyen, no caso Rojo, o Sporting tem de pagar 12 milhões de euros... está confiante em vencer o processo?
Estamos confiantes de que temos razão, se essa razão nos vai ser dada parcial ou totalmente no tribunal... agimos em consciência, consideramos que nós agimos bem e os outros mal. É um processo complexo que vai ser dirimido.
E se o Sporting não ganhar?
Temos de arranjar os 12 milhões.
Isso não será problema tendo em conta o cumprimento do fair play financeiro?
Seria um problema se ficasse a zero no final deste exercício e ficasse com 12 milhões negativos. Em dezembro tivemos 24 milhões de lucro, se esses 12 milhões fossem contabilizados tínhamos 12 de lucro. Estamos à vontade.
Benfica e FC Porto vão ser testemunhas da Doyen...
Ao que percebi vão dizer que o contrato que nós contestamos é igual aos contratos que têm com a Doyen. Duvido. Terei interesse em ver esses contratos. Temos a convicção de que os dois contratos específicos, Rojo e Labyad, são leoninos. E não são no sentido do Sporting.
Segundo o relatório e contas de 31 de dezembro o valor do plantel do Sporting é de 25 milhões de euros. O do Benfica é de 94,4 milhões e do FC Porto é de 85 milhões. Há uma disparidade porque muitos atletas do Sporting são da formação. Para voltar a ganhar, o Sporting precisa que os outros grandes sigam a política de contenção de custos?
Isso tem prejudicado o Sporting porque os investidores olham e veem a disparidade do valor dos plantéis. A redução de custos [nos outros dois clubes] é uma inevitabilidade, não tenho dúvidas. Na Europa, vamos ter 20/30 clubes e todos os outros vão ter de se ajustar à realidade. Não há em Portugal uma estrutura de receitas para ter um plantel como o do FC Porto.
E um plantel como o do Benfica?
Há a perceção de que com os atletas que estão em final de contrato o Benfica só renova por metade ou menos.
Já disse que o Sporting não precisa de vender jogadores. Que fontes de financiamento alternativas o Sporting tem para manter todos os seus elementos mais importantes?
Temos uma estrutura de receitas para ter um clube arrumado, sempre que vem uma venda temos de a dividir entre pagar dívida à banca e fazer algum investimento adicional. Uma coisa que sempre me fez impressão; os jogadores não são para andarem a ser vendidos. O objetivo é potenciar receitas ganhando títulos. Temos de criar condições para que os jogadores de topo fiquem cá e ganhem muitos títulos.
O orçamento para 2015-2016 vai ser de 20 milhões indexado à presença na Liga dos Campeões?
E à camisola.
Se o Sporting vender um jogador por 20 milhões, metade será para amortizar dívida e a outra metade para investir no plantel?
Não é linear. Temos um plano estruturado com os bancos. Não há um rácio 50/50. É verdade que nos valores líquidos de uma venda parte vai para dívida bancária e o restante pode ser reinvestido.
Quanto dinheiro falta para que o pavilhão seja uma realidade?
Nenhum. A missão pavilhão era, ao todo, de 10 milhões de euros. O pavilhão propriamente dito custava 7,2 milhões mais IVA, agora são 7,4 milhões mais IVA. Para o pavilhão, que será inaugurado em março de 2017, o dinheiro existe e está fechado. A verba em falta é para obras de manutenção do Multidesportivo.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Nuno M Almeida