Muito futebol naqueles pés
Jornal Expresso
Sporting, 1 - Vitória SC, 0
Sem Coates e Nuno Santos no onze, com Paulinho no banco e com Daniel Bragança a titular, o Sporting entrou em campo a saber que o Porto do truculento Conceição tinha ganho em Portimão.
Excelente entrada leonina, com agressividade e objectividade, tendo maior posse de bola e criando várias ocasiões de golo, perante um Vitória pouco agressivo nas marcações e na pressão.
O golo de Gonçalo Inácio - analisado pelo mesmo VAR que anulou o de Tiago Tomás - deu justiça ao marcador, indo nós assim para intervalo em merecida vantagem.
Segundo tempo com a mesma toada. Domínio leonino embora com pouca criação de lances iminentes de perigo.
Aos 70 minutos entrada de Tabata e Paulinho em jogo, apostando Amorim ainda num maior pendor ofensivo, visando fixar mais a defensiva vimaranense, tirando assim Bragança e Tomás.
Nos últimos dez minutos, e já com Quaresma em campo, o Vitória teve maior presença junto à nossa área.
Aos 83 minutos a estreia do menino de 16 anos, Essugo, na equipa principal do Sporting. Tocantes as suas lágrimas no final, e o carinho que os colegas lhe dedicaram.
Mais uma batalha superada e mais três pontos!
“Temos de dar mérito. O jogo só acaba quando o árbitro apita. Não é sorte, é procurar a sorte. Ainda assim, que este Sporting tem estado longo de atingir a 'excelência'.
Acho que o Sporting nunca atingiu neste campeonato um nível exibicional em que se possa dizer que é um campeão inquestionável.
É verdade que tem todo o mérito naquilo que está a fazer, a forma regular como está a jogar, mas diria que é o menos mau”
Enquanto adepto e ávido consumidor de futebol sempre defendi que uma boa estrutura de equipa se estabelece, constrói e define exatamente como a de uma casa: de baixo para cima, ou neste caso, de trás para a frente.
Temos esta temporada uma solidez defensiva como há muito não se via. Apenas 11 golos sofridos em 22 jornadas: uma média insuperável de apenas 0,5 golo por jogo.
Com um Adan de mãos de ferro na baliza, um imperial Coates no meio da defesa a comandar e liderar, um fiável Feddal no lado esquerdo do trio de centrais e um tentacular todo-o-terreno Palhinha, Amorim construiu, de forma absolutamente competente, o sector nevrálgico que dá segurança e solidez à equipa. E que pouca ou nenhuma rotação tem sofrido ao longo da época, o que ainda confere maior equilíbrio a esse pêndulo defensivo.
Essa impenetrabilidade defensiva tem inclusivamente permitido ao treinador rodar o lado direito do trio de centrais: antes Quaresma e Neto, e agora Inácio. Invariavelmente com sucesso.
Nada acontece assim ao caso e nada é coincidência. Este é claramente um dos factores que mais justificam e sustentam o sucesso deste nosso Sporting 2020/2021.
Há exatamente cinco anos, São Ruiz decidiu (involuntariamente) salvar a nação lampiónica, num campeonato que, continuo a achar, foi ganho no campo por nós. O tal dos 86 pontos, das toupeiras, dos padres e das missas...
SPORTING FAZ OMELETES COM OVOS DE CODORNIZ
Os resultados desportivos do Sporting são assim ainda mais notáveis.
O clube é de longe o menor dos três (em ativos, em receitas e em salários) e não investiu este ano, pelo contrário, reduziu custos. Mais: este ano também é o que perde mais receitas, porque não tem competições europeias a compensar as perdas de bilheteira e de publicidade, pelo que acumula prejuízos.
Ganhar o campeonato, se se confirmar, não tirará o Sporting do lugar difícil em que está, mas garantirá um crescimento de receitas brutal no próximo ano, desde logo pelo acesso à Champions.
E se o Sporting assim merece todos os elogios, por ter de longe menos dinheiro, FC Porto e Benfica têm de ser chamados à cobrança.
Sobretudo o clube da Luz: é inadmissível gastar tanto dinheiro e ter tão baixos retornos. Não se trata aqui, pois, de análise desportiva, coisa que remeto para quem aqui na Tribuna Expresso percebe a sério de futebol. Trata-se de uma análise da gestão. E da má gestão.
Num clube, os sócios são mais importantes que os acionistas. Porque não se ganha campeonatos para lucrar, lucra-se para ganhar campeonatos.
Mas clubes inviáveis não têm futuro. Que o diga o Sporting, que mesmo beneficiando de um perdão de dívida camuflado nas VMOC está agrilhoado por erros financeiros que o iam matando.
Daí ser exigível avaliar não só treinadores, mas também gestores.