Está a chegar a hora de ir às urnas e acredito que apesar de muitos já terem decidido o seu sentido de voto, outros tantos decidirão apenas de manhã, talvez só mesmo no acto de votar. Não foi uma campanha brilhante nem muito esclarecedora mas ao menos não se verificou a ausência de debate das últimas eleições que, a meu ver, prejudicou o clube.
Queria deixar aqui um muito obrigado a todos as candidaturas que se bateram pelas suas convicções e que, muitas vezes com sacrificíos de índole pessoal, oferecem aos sócios o privilégio de poder escolher. Parabéns a todos, seja qual for o resultado, prestaram um serviço ao clube e só por isso já merecem o nosso respeito.
Agora que terminou o dia de reflexão, hesitei se colocaria aqui ou não a minha análise final às várias candidaturas e, por extensão, o meu sentido de voto aos vários orgãos sociais. Decidi que sim. Não me sentiria bem defender um Sporting sem complexos e estar aqui com algum tipo de inibição em escrever o que quer que fosse, não fazia sentido. A minha análise segundo critérios que julgo importantes com votação de 1 a 10.
Lista A,
Presidente: Godinho Lopes. Parece-me bem intencionado, procurou sempre agregar em vez de dividir. Inteirou-se dos números mas beneficiou claramente de promiscuidade ao obter respostas financeiras que à partida são negadas aos próprios Conselheiros do clube. Não arrasta multidões mas está disponível para as convidar a trabalhar com ele. Nota 6
Equipa: Luis Duque e Carlos Freitas são os seus grandes trunfos. Conhecem o mercado como poucos mas a grande questão é se muitos de nós com as mesmas verbas não faríamos igual ou melhor? Carlos Barbosa e Paulo Cristóvão são dois nomes de peso. O primeiro decepcionou-me ao atacar os sócios face a algum desespero de sondagens, o segundo julgo que é claramente mal aproveitado para o património, seria muito mais útil noutras áreas. Nota 7
Investidores: É aqui que está o porquê da questão da continuidade. Investidores não se conhecem e o dinheiro tem que vir de algum lado e aqui esse lado chama-se banca. Com o aval pessoal do Presidente serão libertados mais fundos que nos endividarão de novo e todo o esforço das anteriores reestruturações cairá por terra. O restante património, leia-se estádio, poderá passar para a SAD deixando de vez o clube nu de qualquer infraestrutura. E não será tudo. Nota 3
Soluções: Conhecem-se poucas numa clara falha de comunicação da lista. O tempo perdido a falar de soluções de outras candidaturas, não evidenciou o potencial de elementos como Pedro da Cunha Ferreira e João Pedro Varandas. Ainda assim as mais mediáticas terão sido as bombas de gasolina. Uma em que será possível a renegociação de exploração que termina em 2013 e outra que terá ficado em banho-maria em Alcochete na recta de Pegões (aqui tenho muitas dúvidas porque já foi construída uma relativamente perto). Nota 5
Equipa técnica: Não foi apresentado mas todos sabemos quem é o escolhido, trata-se de Domingos Paciência. É um treinador que me agrada muito, já o defendo como escolha desde os tempos que treinou a Académica e fez de Saleiro vindo de Setúbal sem minutos, abatido e sem confiança, um goleador. Tudo o resto que fez no Braga apenas confirmou a ideia que tinha dele, é um excelente treinador e o melhor que esta candidatura tem para oferecer ao Sporting. Se tivesse noutra candidatura, todos questionavam se vinha mesmo. Nota 8
Capacidade de união/mobilização: É nula, quando muito residual. Eleger uma lista apelidada de continuidade pela generalidade dos adeptos e até por alguns elementos da própria lista (que tiro no pé, Sr. Carlos Barbosa!), implica no consciente das pessoas mais do mesmo. E isso traduz-se na ausência de esperança face à excessiva dependência da banca. A desmobilização de forças com repercurssões evidentes no número de associados e assistências será evidente. Nota 2
Média da Lista A: 5,2
Lista B,
Presidente: Pedro Baltazar. Tem uma visão que me faz lembrar a de Filipe S. Franco, um clube de futebol onde as modalidades são vistas como despesa e não investimento. Não querendo ser injusto, fiquei com a impressão que aos sócios reserva um papel secundário no futuro do clube. Apesar do seu lema, parecem mais importantes os amigos investidores que os sócios. Nota 5
Equipa: Não tem nomes muito conhecidos do grande público, ainda assim Tomás Froes não é propriamente um desconhecido. Notou-se algum cuidado em fazer-se rodear por homens da sua confiança, sendo um critério bem melhor do que tudo ao molho e fé em Deus. Parece depositar em Zico todas as valências de avaliação técnica necessárias para o futebol. Por fé inabalável no luso-brasileiro ou por ausência de outros conhecimentos, fica a dúvida no ar. Nota 6
Investidores: Pretende-se activar o fundo deixado por Bettencourt e, na ausência de outros investidores, tomá-lo por elementos de confiança da lista. O problema é que nele estão sub-avaliados atletas jovens do clube, alguns de Selecção. Aliás, a avaliação de 15M€ foi exactamente um dos grandes motivos que não foi activado. Ora isto não é um preço de saldo, é sim um mau negócio para o clube. Nunca deverá ser visto como a solução principal mas apenas como um complemento se, e só se, renegociado. Nota 4
Soluções: Também aqui falhou por completo o passar da mensagem. Quem é que não sendo afecto à lista conhece as soluções que tem para o clube? As dificuldades de comunicação não explicam tudo. Do pouco que retive, lembro-me de ouvir falar em apostas no ténis e no râguebi. Devia ter perdido menos tempo a falar dos outros. Muito pouco, muito pouco mesmo. Nota 2
Equipa técnica: Tudo se parece resumir a Zico. Um treinador mediano que tem a grande e legítima ambição de treinar o nosso clube por virtude de seu já falecido pai, ao que consta um ferveroso sportinguista. Respeito e de alguma forma me orgulha esse desejo mas nada vi em Zico que lhe reconheça qualidade acima da média para treinar o Sporting. Nota 5
Capacidade de União/Mobilização: Cometeu algumas gaffes na campanha, referiu-se a sportinguistas como grandes benfiquistas e questionou o papel do Sporting no Futsal. Se a primeira posso entender como um lapso linguístico, já não sei como enquadrar a total (falta de)noção que as vitórias do Futsal têm representado no seio da nação leonina. Nota 4
Média da Lista B: 4,3
Lista C
Presidente: Bruno de Carvalho. É a grande surpresa destas eleições ao ditar o ritmo da campanha. Enquanto fazia, outros copiavam. Enquanto apresentava, outros criticavam. Esteve sempre um passo (ou mais) à frente dos restantes candidatos e no final quase todos se renderam à sua visão de partilha de risco de investimento. Cumpriu tudo o que prometeu. Nota 9
Equipa: Inácio é o seu grande rosto. O simbolismo de ter sido alguém que quebrou com um passado de derrotas não é por acaso. É um Campeão por demais vezes esquecido, ele que a mim me fez chorar. Duvida-se das suas qualidades de prospecção e análise mas para já tem calado muita gente. Será secundado por Virgílio numa clara aposta em verdadeiros Leões. Nota 7
Investidores: Um dos ases de trunfo da candidatura. Apresentar 3 investidores de reconhecida notoriedade russa disponíveis para investir 50 M€ no nosso clube é uma dádiva que não podemos ignorar. Se tivermos em conta as condições favoráveis que nos cabem como são os 60% de uma futura mais valia ou o facto de podermos manter o atleta por mais do que um ano, aliado a outras condições benéficas, nada a dizer, é um grande negócio para o clube. Nota 9
Soluções: A grande solução é quebrar o paradigma de financiamento exclusivo proveniente da banca. Só esta medida devolverá a autoestima dos adeptos. Ninguém gosta de andar na rua a saber que todos sabem que é mau pagador, as pessoas têm vergonha e escondem-se. No caso do Sporting deixam de ir ao estádio e em último caso, de pagar quotas. A grande virtude desta candidatura é apostar na mobilização dos adeptos, na magia de ser Sporting. Nota 8
Equipa técnica: Marco Van Basten fez parte dos ídolos de quase todos nós. Foi um jogador de excelência e só por isso não é considerado, para já, um excelente técnico. O nível de exigência que colocamos a ele não é mais do que o nível que atingiu como jogador. Treinou o Ajax e a Selecção holandesa com um futebol vistoso e de qualidade, conhece a formação e sabe colocar uma equipa a jogar bonito. Tem projecção mundial que facilita a vinda de jogadores e não é caro. Nota 8
Capacidade de União/Mobilização: Será o grande trunfo do Sporting e o meu maior desejo tornado realidade, a união do clube. Precisamos de vez de fazer as pazes com o passado para poder olhar para o futuro. A capacidade de mobilização que se tem verificado em torno desta candidatura faz-me lembrar o que sempre foi o Sporting, um clube que nos orgulha pela sua magia e capacidade de atracção. Pensar que isso pode estar por horas, é aquela emoção. Nota 10
Média da Lista C: 8,5
Lista D,
Presidente: Dias Ferreira. É um velho conhecido dos sportinguistas e de todos os portugueses atentos ao fenómeno futebolístico. Tem tido atitudes nem sempre consentâneas com o seu discurso, parecendo, por vezes, dizer uma coisa e fazer outra. Dele nunca se sabe muito bem o que se espera, é sem dúvida um ferveroso sportinguista mas tem provado na TV nem sempre saber defender os interesses do clube. É simpático e combativo. Nota 7
Equipa: Fez a asneira de uma vida, escolher Futre é um dos grandes calcanhares de Aquiles desta candidatura. Não é pela simpatia pelo rival (pronto, ok, também é) mas pela impreparação para o lugar. Não é preciso saber falar bem nem ter um grau de escolaridade elevado, é preciso ter apenas a noção do rídiculo para não continuarmos a ser alvo da chacota desportiva nacional. Para tal, já me chegaram os últimos 18 meses. Nota 1
Investidores: Não apresentou, deduzo que não tenha. Provavelmente alguém lhe falou que existem alguns fundos no mercado e à pressão lhe explicou como as coisas funcionam. As critícas que lançou a Bruno de Carvalho na questão do veto, virou-as para si. A falta de preparação na matéria veio ao de cima quando o candidato da lista C lhe lembrou que estava a fazer o mesmo, deixando Dias Ferreira visivelmente atrapalhado (isto com a agravante de não apresentar investidores). Ninguém investe ao desbarato e Dias Ferreira já tem idade para saber isso. Nota 3
Soluções: Investir no mercado asiático. É sempre uma grande solução, é lá que estão muitos dos grandes consumidores das marcas internacionais. Agora fazer isto com os pés bem assentes no chão e não num voo charter. A dimensão do futebol nacional comparado com a Liga Espanhola é... bem... digamos que não é a mesma coisa. É uma ideia interessante mas quando se diz que vamos ter comissões dos hóteis, restaurantes, etc e criar um departamento de futebol para o chinês com 400 e 500 adeptos a virem todas as semanas... passa a rídicula. Nota 4
Equipa técnica: Frank Ryjkaard. É o treinador com maior peso internacional. É um conhecedor da formação e um amante do futebol espectáculo. Já falhou e já ganhou mas deixou sempre a sua marca. Coloco Ryjkaard um pouco acima de todos os outros e não tenho dúvidas que é do melhor que esta candidatura tem para oferecer. Se não fosse uma eleição para Presidente... Nota 9
Capacidade de União/Mobilização: Não me parece que Dias Ferreira e muito menos Futre sejam capazes de gerar grande entusiasmo junto dos adeptos, pelo menos do Sporting. Arrisco mesmo a dizer que se continuarmos a ser brindados com sketches da qualidade deste último de Paulo Futre, arriscamo-nos a um verdadeiro acto de magia, a do desaparecimento do orgulho que nos resta. Nota 2
Média da Lista D: 4,3
Lista E,
Presidente: Sérgio Abrantes Mendes. É um Senhor e ninguém se atreve a dizer o contrário. Mas também é um romântico algo desfasado da realidade actual. Parece que parou no tempo, mais concretamente em 99 quando, mérito lhe seja dado, já criticava abertamente o modelo das SAD e o projecto Roquette. Candidatou-se contra Filipe Soares Franco e procura ter outra vez voz nestas eleições, mais não seja para defender o clube que ama. Nota 6
Equipa: Não trouxe nomes para cima da mesa e pouco se conhece do staff, como lhes gosta de chamar. Tem alguns jovens como o Francisco Ferrão e Adílio Câmara, com talento e garra para ajudar mas o resto é uma grande incógnita. Aliás, toda a candidatura é. Nota 4
Investidores: Não apresentou nem fez qualquer menção a eles. Não sei se é por não acreditar que são precisos ou simplesmente por não os ter. Seja como for o vazio foi tão grande que até me tinha esquecido de comentar a candidatura segundo este critério. Mea culpa. Nota 1
Soluções: Rigor de gestão. Muito bem, todos devem ter mas... numa altura em que temos dificuldade em suportar o serviço da dívida, gostaria de saber algo mais do que rigor quando as receitas não suportam as despesas. Como investir e reforçar o plantel? Baixar a massa salarial pode não ser suficiente, sinceramente gostaria de saber mais.... ou qualquer coisa. Nota 2
Equipa técnica: O escolhido foi Dunga, não sei é se este concorda. Pelo menos no site oficial diz que não. Esta rábula do técnico fará a candidatura perder votos, a alegada não confirmação deveria ter sido desmentida por SAM com documentos ou pelo menos com uma declaração do técnico. Nada disso aconteceu pelo que nada mais há a comentar. Nota 1
Capacidade de União/Mobilização: Abrantes Mendes protagonizou um dos momentos da campanha ao convidar todos a desistirem em prol do Sporting, resta saber se foi por união do clube, se por falta de convicção na sua candidatura. Nota 3
Média da Lista E: 2,8
Resumo dos votos:
Conselho Directivo: Lista C, Bruno de Carvalho
Assembleia Geral: Lista A, Rogério Alves
Conselho Fiscal: Lista F, Conselho Fiscal Independente
Conselho Leonino: Lista I, Associação de Adeptos Sportinguista
Abraço de Leão,
Verdão